Francisco Alvim
Este não é um artigo, é uma deferência, para Francisco Alvim. Muito mais interessante que Rubem Alves. Poeta marginal, irreverente, inovador, ousado. A poesia de Alvim é concisa e contundente. Contundente da única forma que se pode sê-lo: falando da miséria da nossa existência, selvageria, solidão, da época, que é a nossa, irreversivelmente.
Uma poesia de Francisco Alvim:
A Roupa do Rei
DRUMMONDIANA
Estamos gastos sim estamos
gastos
O dia já foi pisado como devia
e de longe nosso coração
piscou na lanterna sangüínea dos automóveis
Agora os corredores nos deságuam
neste grande estuário
em que os sapatos esperam
para humildemente conduzir-nos a nossas casas
Em silêncio conversemos
Que fazer deste ser
sem prumo
despencado do extremo de um dia e
que o sono não recolheu?
Não não indaguemos
Para que indagar matéria de silêncio
Procurar a nenhuma razão que nos explique
e suavemente nos envolva
em suas turvas paredes protetoras
Nada de perguntas
A campânula rompeu-se
O instante nos ofusca
A quem sobra olhos resta ver
um ser nu a vida pouca
Só dentes e sapatos
de volta para casa
Nem um passo à frente
ou atrás
De pés firmes
o corpo oscilante
neste suave embalo da mágoa
descansemos
1968 - Sol dos cegos
Retirado de : http://www.jornaldepoesia.jor.br/falvim.html
Leia também:
Canto
Ária branca – aderência
em muro branco
neste dia tão solar –
dia dos mortos
dia do antes
É como se o olhar tornado
inumano
por força do branco
soasse
livre do longe e do perto
de si mesmo refeito
na desmesura do ar
Longe ficaram as montanhas
Perto o lago não está
Obra:
Sol dos Cegos -1968
Passatempo – 1974 - Passatempo e Outros Poemas 1° Edição
Dia Sim Dia Não - 1978 - em parceria com Eudoro Augusto
Festa - 1981
Lago, Montanha -1981
Passatempo e Outros Poemas - 1981
Poesias Reunidas (1968-1988) - 1988
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